14 junho 2009

A Escola na Novela

O presidente da Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (Confenen) divulgou um texto no Informativo online da entidade, em que apóia a abordagem feita pela autora Glória Perez, mostrando como a superproteção de pais pode interferir negativamente na formação dos filhos.

Ao contrário de opinião de muitos envolvidos no setor de educação, Dornas acredita que o assunto deve ser exposto na mídia e que a repercussão pode ser positiva, principalmente no sentido de alertar esses pais.

Veja, abaixo, a íntegra desse artigo:


A novela das oito da Globo, como é chamada, vem abordando um dos grandes problemas da atualidade. Cada vez mais, a indisciplina, o desrespeito ao professor, a falta de limites, a não observância de regras e normas, a conduta antissocial, a incapacidade de convivência na coletividade, a incontinência verbal, a agressão, a violência e a pretensão de aprovação de qualquer jeito e sem esforço caracterizam boa parte do aluno e seu procedimento na escola e perante a escola. E, muitas vezes, estimulados e acobertados pelos pais.

A raiz do problema está fora e antes da escola: falta a educação doméstica, a imposição de limites, o exemplo dos bons hábitos e costumes pelos que, legalmente e de fato, são os responsáveis pelas crianças, jovens e adolescentes. A escola não é lugar de educar, mas de instruir e de possibilitar a vivência e a convivência coletivas, a boa sociabilidade.

No entanto, não são poucos os pais que – por incompetência, desleixo e até mesmo deformação – querem transferir à escola o ônus, prerrogativa e dever que unicamente lhes cabe, abdicando de uma obrigação primária de quem procria e cria. São os mesmos pais que, como também mostra a novela, por comodidade ou alienação, não aceitam a doença, a deficiência, a dificuldade e a deseducação dos filhos. Em vez de providenciar-lhes o tratamento adequado, procuram buscar a culpa na escola e nos professores.

Para tal atitude de leniência e permissividade, contribui um excesso de democracia ou de compreensão do que realmente seja, confundindo-a com irresponsabilidade e permissividade, em que tudo é normal e tolerável, em nome do exercício da liberdade e do direito individual. Rousseau já lembrava que a democracia sem normas, sem regras, sem princípios para sua própria defesa, se destrói, criando a anarquia. Há uma onda ideológica e de postura, decantada e multiplicada por certa parte da mídia, incentivada por ações de órgãos públicos, de autoridades e de certa legislação que propagam direitos dos mais variados matizes, sem mostrar a correspondência recíproca do dever e da responsabilidade. Vivemos uma democracia só de direitos, sem obrigações, para gáudio de muitos que assim agem apenas em busca de notoriedade, audiência ou votos.

Por isso, não são poucos os pais, como mostra a novela, que enfeitam o filho, desautorizam a escola e dela querem tirar vantagens, com pretensões de dano moral, de constrangimento ilegal, de ofensa ao menor, de cerceamento de defesa, de infração a código de consumidor e a outros códigos.

Não se faz ensino, não se consegue educar, sem a cumplicidade harmoniosa de entendimento e confiança entre pais – alunos – professores e escola, dentro de um clima de respeito e seriedade. Se a escola perder a condição de disciplinar, de impor limites e estabelecer normas, não mais haverá educação e ensino e, se o mundo está ruim; se imperam a droga, a violência, a impunidade, o deboche, a corrupção, a falta de respeito e a exploração do próximo como objeto de uso e satisfação pessoal, ele ficará muito pior com a escola que está aí e com o que vem sofrendo, principalmente pela alienação de grande parte das famílias.

A escola também tem grande culpa, por tudo aceitar passivamente, sem reação, sem se impor ou se antepor, muitas vezes por comodismo, outras por medo e outras, ainda, simplesmente para não perder aluno. Acrescente-se que projetos, órgãos e autoridades de ensino, práticas e pregação de certos segmentos quebram o sistema do mérito, substituindo-o pela benevolência, tolerância e privilégios, a ponto de aprovar os que não se dedicam e não estudam.

Crianças, adolescentes e jovens precisam ser educados, conduzidos e preparados para se tornarem gente de bem, competente, responsável, solidária e séria. Estão destruindo a escola, estão destruindo o futuro e, daqui a uns anos, restará o choro tardio e inútil, pois arrependimento não cura ninguém, nem a sociedade.

A Globo e a novelista expõem um problema real; não lhes cabe a incumbência de corrigi-lo e de encaminhar soluções. Mas, ao trazê-lo a furo, em horário nobre, com grande audiência, está dando sua colaboração, retirando o tapete que acoberta um lixo deletério e de efeito retardado. Expõe publicamente e com clareza uma chaga, para que todos a sintam, examinem a moldura atacada por carunchos e, sem omissão, tomem conhecimento da praga, agindo para que seja extirpada enquanto é tempo.”

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